
O Rio Madeira, um dos maiores e mais importantes afluentes do Amazonas, se tornou um ponto crucial na disputa entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Em entrevista exclusiva ao Portal Manaus Mil Grau, o professor e ex-governador do Amazonas, José Melo, compartilhou sua visão sobre a importância estratégica do rio para a economia e a biodiversidade da região.
O guardião da floresta
Para José Melo, o Madeira representa um marco geográfico e ecológico que tem impedido a expansão descontrolada da fronteira agrícola no Brasil. “A atividade agrícola começou no Sul e Sudeste, passou pelo Centro-Oeste e chegou ao oeste do Amazonas. Mas o Madeira tem sido um verdadeiro guardião da floresta, freando o avanço da fronteira agrícola e preservando a biodiversidade única da região”, destacou o ex-governador.
Melo enfatiza que, diferentemente do que ocorreu em outras áreas do país, onde a expansão agropecuária muitas vezes resultou em desmatamento descontrolado, o Madeira tem atuado como uma barreira natural que protege a floresta. “O que nenhuma política pública conseguiu, o Madeira fez: impediu a destruição desordenada da Amazônia”, afirmou.
O potencial econômico do rio
Além de sua relevância ambiental, José Melo ressalta a importância do Rio Madeira para a economia do Amazonas e do Brasil. Segundo ele, o rio desempenha um papel fundamental na logística de escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste, especialmente da soja cultivada na Chapada dos Parecis. “Milhões de toneladas de soja são transportadas pelo Madeira até Itacoatiara, onde são processadas e transformadas em subprodutos, como óleo degomado e farelo de soja”, explicou.
O ex-governador também chama atenção para o potencial agrícola das várzeas do Madeira. “É o maior produtor de melancia de várzea do Amazonas, uma atividade que poderia ser incentivada e ampliada com políticas públicas adequadas”, pontuou.
A exploração das riquezas naturais
Melo levanta um ponto polêmico ao falar sobre a exploração mineral do Rio Madeira. Ele lembra que, ao longo dos anos, toneladas de ouro foram extraídas de suas águas, mas sem regulamentação adequada, grande parte desse minério foi contrabandeado. “O mundo explora e se beneficia de suas riquezas naturais; nós também temos esse direito. Mas é preciso que o Brasil estabeleça políticas para garantir uma exploração racional e sustentável dessas imensas riquezas”, defendeu.
Para ele, a questão central é equilibrar desenvolvimento e preservação. “O povo do Amazonas merece usufruir dessas oportunidades, mas isso deve ser feito de forma planejada e responsável”, afirmou.
Um chamado às autoridades
Ao final da entrevista, José Melo deixou um apelo às lideranças políticas e governamentais. “O Brasil precisa acordar para o potencial do Madeira. O Amazonas tem riquezas naturais que podem ser exploradas de maneira sustentável, garantindo benefícios para a população sem comprometer a floresta”, concluiu.